25/07/08

Num chão frio...frio...

À falta de tempo para escrever sobre a nossa terra (isto tem andado complicado por causa da aproximação das férias!) apresento-vos a este senhor que aqui canta e que na passada sexta-feira deu um dos seus, cada vez mais raros, concertos ao vivo em Milão no Teatro Degli Arcimboldi. Chama-se Tom Waits, faz parte da banda sonora da minha vida, e é um génio! Músico, actor (é lendária a sua performance no Bram Stoker's Dracula de Francis Ford Copolla!) e último poeta "beatnick" vivo, descendente em linha directa do "Rei" Jack Kerouac!

Faz parte do meu imaginário da América, da grande América, da América criativa, humanista, tolerante e libertária, não desta pequena América belicista e arruaceira que o Sr. Bush e os seus sicários têm imposto ao Mundo nos últimos anos.

God Bless ... Tom Waits

God Bless America ... Land of the free... Home of the brave ....

18/07/08

Crónica da restauração do Pelourinho de Castro Laboreiro

Entre os muitos e meritórios serviços que o falecido Padre Aníbal Rodrigues prestou à nossa terra, distingue-se a restauração do velho Pelourinho de Castro Laboreiro. Eis aqui o relato dessa façanha, publicado pelo próprio Senhor Abade, nos Cadernos Vianenses, Edição do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Tomo II, 2.ª Edição, 1979, págs. 22 a 25:
«(…) Embora Castro Laboreiro fosse erecta Vila e sede de concelho por foral concedido por D. Afonso III, em 1271, o que correspondia ao direito de pelourinho, o actual monumento, desta antiga Vila, data de 1560, tendo-lhe sido concedido novo foral por D. Manuel I em 1513. Constituído por três degraus, uma base, fuste, gola e capitel, rematado por pequena pirâmide, presidiu aos destinos desta região desde 1560 a 1860, data na qual foi apeado do seu legítimo lugar e dispersos todos os seus elementos para naquele local se construir uma casa particular.
Os degraus desapareceram para sempre, não havendo possibilidade da sua recuperação. A base consegui descobri-la a fazer parte do muro de um quinteiro.


O fuste encontrei-o a servir de lintel ou padieira na chaminé da casa construída onde ele se encontrava antes de ser destruído. Preocupado com a sua restauração continuei sempre em investigações para descobrir o seu capitel. Depois de numerosas pesquisas, fui encontrá-lo a servir de óculo de luz numa casa em ruínas, a uns trezentos metros num muro dobrado e de alvenaria irregular. Facilitou-me o seu reconhecimento o facto de ser trabalhado a pico fino e de ter a gola circular voltada para fora. Somente em 1978 me foi possível desmontá-lo do respectivo muro com auxílio dos pedreiros reconstrutores das muralhas do castelo. Depois do mesmo se encontrar no solo pude averiguar que era verdadeiramente o capitel do antigo pelourinho de Castro Laboreiro, pelo facto de na face interior ostentar uma gola circular com a espessura de 5 centímetros aproximadamente; e na superior um rebaixe de uns 4 centímetros, onde poisava a pirâmide que rematava este pelourinho. Não me foi possível descobrir a pequena pirâmide.


Os trabalhos de investigação para reunir os três elementos desta preciosa relíquia do passado, prolongaram-se durante vinte e quatro anos. Mas como saber o estilo e forma deste pelourinho para a total identificação dos seus elementos e sua restauração?

Mercê dos trabalhos de investigação do estudante Soeiro de Carvalho no Arquivo Distrital de Viana do Castelo, conseguiu descobrir-se um esboço muito perfeito deste pelourinho, efectuado pelo Sr. Coronel Fernando Barreiras, em Julho de 1917, data em que fez uma visita de estudo a Castro Laboreiro; e que servindo-se das preciosas informações do Castrejo Sr. Melchior Gonçalves, que ajudara a desmontar e destruir este antigo pelourinho em 1860, conseguiu com muita precisão representar a lápis este monumento no artístico esboço de todas as peças constitutivas do mesmo, descrevendo com bastante aproximação as respectivas medidas de cada um dos seus elementos (...).

Foi com esse referido esboço e memória descritiva de todas as peças de que este monumento constava que consegui levar a Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Norte a reconhecer como autênticos todos os elementos descobertos podendo solicitar àquela entidade a sua imediata restauração.


Quero manifestar publicamente o meu sincero agradecimento a todos os donos das propriedades urbanas, onde as peças em referência se encontravam, pela cedência voluntária das mesmas. Não posso deixar de expressar, como filho de Castro Laboreiro e humilde estudioso destes monumentos, raízes desta região, o meu eterno agradecimento aos meus estimados amigos, Sr. Dr. Oliveira e Silva, digníssimo Governador Civil de Viana do Castelo; ao Sr. Eng.º José Maria Moreira da Silva, digníssimo Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês; ao Sr. Arquitecto Roberto Leão, do Planeamento do Porto; ao Sr. Professor Carlos Alves, digníssimo Presidente da Câmara Municipal de Melgaço, e ao Sr. Adelino Esteves digníssimo Presidente da Junta de Freguesia de Castro Laboreiro, por todo o auxílio e apoio que tiveram a bondade de me dispensar, patrocinando uns, a sua imediata restauração; e outros, além do seu contacto com as entidades responsáveis, a oferta do seu auxílio pecuniário. Bem hajam por todo o interesse que me concederam. A imediata restauração de tão belo e histórico monumento será a recompensa bem merecida de todos estes auxílios e trabalhos a bem da cultura nacional, que tão precisada anda de trabalhos de tamanha monta.
Castro Laboreiro, 10 de Fevereiro de 1979»

Vinte e quatro anos durou a odisseia da restauração do Pelourinho quinhentista do velho concelho de Castro Laboreiro. Grande Padre Aníbal! Como disse o Aquilino Ribeiro, remoçando o velho provérbio português: - «Alcança quem não cansa»!

16/07/08

Bocanegra




Aqui está o último representante da nobre linhagem dos bocasnegras.

Trata-se de um carro conceptual da Seat apresentado no Salão de Genebra 2008. Pelos vistos parece que vai ser produzido em série!

Quero um!

10/07/08

O Carteiro de Castro Laboreiro


“O” Carteiro de Castro Laboreiro foi e, enquanto perdurar a sua memória, há-de sempre ser o saudoso Nelo “Picota”.
Pessoa extremamente simpática, amável e dotado de um peculiar sentido de humor, o Nelo fartou-se de calcorrear a freguesia a entregar as novidades e as cartinhas vindas, sobretudo, da França e que traziam, como ainda hoje trazem, os cheques das reformas tão duramente conquistadas pelos nossos conterrâneos que esfolaram os lombos desde a mais tenra idade naquele país, fugindo à álgida avareza desta nossa querida terra.
O Nelo para além de ser “O” Carteiro também era "O" Sacristão e “braço direito” do Senhor Abade, coadjuvado, nestes ofícios, pela “Lissa”, sua irmã que ainda hoje, após o triste decesso do Nelo, exerce, competente e valorosamente, a nobre e piedosa função de ser a “Sacristã” da Igreja de Santa Maria de Castro Laboreiro. Fenómeno raro este da “Lissa” ser “Sacristã”! Não devem haver muitas mulheres, na cristandade, a exercer tais funções! Por isso sejam discretos e não se ponham a espalhar por aí a notícia de tal fenómeno, isto porque se a coisa chega a Roma nunca se sabe o que poderá acontecer!?
Dizia eu que o saudoso Nelo “Picota” foi, e enquanto a sua memória perdurar, há-de ser “O” Carteiro de Castro Laboreiro. Bom! Convém desde logo que se saiba que isto de ser o Carteiro de Castro Laboreiro, como de uma qualquer outra terra esquecida nos confins desta tão maltratada Pátria, não é uma profissão qualquer! Não é não senhor! Não se trata de um mero e rotineiro funcionário que ciclicamente vai pelas ruas a enfiar sobrescritos em caixas de correio! Não é como o carteiro da cidade que, se casualmente encontramos, nos merece este fugaz pensamento: -“Ah! É o carteiro!” E não lhe ligamos nenhuma, porque afinal é só um tipo que está ali a cumprir uma tarefa que no nosso íntimo, bem lá nas obscuras profundezas do nosso íntimo, consideramos desagradavelmente subserviente! Ser Carteiro em Castro Laboreiro é coisa absolutamente diversa!
Se não acreditam vejam estas fotografias da autoria do Pedro Vilela, de seu pseudónimo Dexter! Trata-se de uma reportagem fotográfica composta pelo autor que, num frio e chuvoso dia de Primavera, acompanhou efectivamente o actual Carteiro de Castro Laboreiro no cumprimento das suas obrigações profissionais. São fotografias magníficas onde a estranha simbiose entre autenticidade e o intimismo nos revelam um Castro Laboreiro deslumbrantemente belo e digno na sua altiva e despretensiosa solidão.
Apresento aqui o meu protesto de gratidão ao Pedro Vilela e, principalmente, aos Carteiros de Castro Laboreiro, de hoje e de sempre!

04/07/08

Castro Megalítico



No passado dia 13/06/2007, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, e a Câmara Municipal de Melgaço, formalizaram junto da Direcção Regional da Cultura a proposta de classificação dos Monumentos Megalíticos e Arte Rupestre do Planalto de Castro Laboreiro. Leiam aqui.

Vamos ver se é desta que, finalmente, uma das maiores riquezas culturais e patrimoniais de Castro Laboreiro é revalorizada, preservada e potenciada, ou seja, vamos lá ver se, por fim, alguém olha como deve ser para o que resta da grande necrópole megalítica situada no planalto castrejo.

Um grande "bem hajam" para o ICN e para a Câmara Municipal de Melgaço, que mais uma vez demonstra o cuidado, o esmero e a preocupação com que nas últimas décadas tem tratado Castro Laboreiro.

Sobre este assunto leiam também (aqui) o magnífico comentário do Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Montes Laboreiro.

03/07/08

Castro Laboreiro, 1826


«CASTRO LABOREIRO, Villa R. Portugal, prov. Entre Duero y Miño, comarca de Barcelos; parroquia, cabeza de la encomienda de la órden de Cristo. Su vecindario asciende a 436 fuegos y 1,495 habitantes. En lo mas elevado de las montañas que separan esta provincia del reino de Galicia, y de la de Traz-los-Montes, está esta villa a 2,5 leguas al S.E. de Melgazo. Es pais muy frio e fragoso, de donde dicen los autores portugueses, que le viene el nombre de Laboreiro. Su castillo está situado em peña viva, y rodeado de una muralla sencilla con 2 puertas.. En una terra tan áspero y frio, no es de admirar que sus productos esten reducidos á poco cent., mijo y nabos, pero lo que le falta en granos, lo resarce en gado lanar, particularmente churro de la mejor casta, de cuya lana hacen escelente buriel que es la industria de sus moradores. Los árboles son igualmente poco frequentes, y los que hay que se reducen a pequeños robles de mala especie. Sus montes abundan de todo género de salvagina, y unos arroyos que passan por su término, en escelentes truchas.»
in: DICCIONARIO GEOGRAFICO-ESTADISTICO DE ESPAÑA E PORTUGAL, Sebastian de Miñano; Madrid 1826.
Um panorama desolador! Salvam-se os nabos, o "mijo", o gado lanar, as "truchas" e, claro, a abundante "salvagina"!